|Para o chefe do Departamento-Geral de Operações da PM, coronel Pedro Paulo Celso, a escalada na apreensão de entorpecentes compõe uma série de ações implementadas para frear o crescimento da criminalidade no Pará. “Bater recorde na apreensão de drogas significa a diminuição da violência”.
Investimento e inteligência. Esses são alguns dos fatores que ajudam a explicar o expressivo aumento de 435% na apreensão de drogas pela Polícia Militar, comparados os dados de 2019 e 2021. Nesse período, foram apreendidos, somente pela corporação, 15,081 toneladas de entorpecentes, de acordo com dados do Departamento-Geral de Operações da instituição (DGO).
Em 2019, foram apreendidos 1.388,360 Kg de drogas ilícitas em todo o Pará. O Comando de Policiamento Regional IV, sediado no município de Tucuruí, foi o que apreendeu a maior quantidade, chegando a 334,83 Kg. Já no ano seguinte, a instituição apreendeu 6.260,872 Kg, com destaque para o Comando de Policiamento Regional IX, com sede em Abaetetuba, que apreendeu, sozinho, 2.505,607 Kg. Os dados de 2020 representam, portanto, um aumento de 350,95% em relação a 2019. Os números são ainda mais positivos em 2021, quando foram apreendidos pela PM um total de 7.432,336 Kg de drogas, número 18,71% maior que o do ano anterior, tendo o Comando de Policiamento Regional II, em Marabá, se sobressaído, com 1.223,53 Kg. Isso significa que em 2021 a produtividade foi 435,33% maior que a de 2019. A droga mais apreendida é a cocaína, seguida da maconha.
Ao longo dos três anos analisados, houve pelo menos dois episódios significativos. O primeiro ocorreu em fevereiro de 2020, com a apreensão de uma carreta contendo cerca de 1 tonelada de maconha em Ananindeua, Grande Belém. Já em Barcarena, no Nordeste paraense, três meses depois, o 14º Batalhão apreendeu aproximadamente 2,5 toneladas de cocaína. “Nós tentamos minimizar o tráfico por meio do serviço de inteligência, um trabalho mais direcionado, focado em pontos que nós sabemos, até pelo histórico, que podem gerar essa produção de droga”, explica o chefe do DGO, coronel Pedro Paulo Celso. Para ele, a participação da população tem sido fundamental. “Recebemos muita denúncia, seja pelo Whatsapp, pelo e-mail ou até mesmo pelo 181 (Disque-Denúncia). É o momento em que nós preparamos uma operação e fazemos o levantamento de inteligência, porque temos a intenção, não somente de apreender droga, mas de prender as pessoas que traficam ou que plantam”, explica o oficial.
A apreensão de drogas no Pará foi bem maior se considerarmos que o entorpecente apreendido in natura, como no caso das plantações de cannabis sativa, a maconha, encontradas principalmente no Nordeste paraense, não entram nos cálculos por Kg, já que o procedimento legal adotado é o registro fotográfico da plantação, a incineração de grande parte do plantio e apresentação de uma amostra na Delegacia de Polícia Civil para a confecção de laudo técnico e a formalização da ocorrência. Entre 2020 e 2021, as maiores apreensões de droga in natura foram de 14 mil pés de maconha no município de Terra Alta, 12 mil em Tomé-Açu e 10 mil pés em Cachoeira do Piriá.
Ainda de acordo com o coronel responsável por todas as operações da PM no estado, há fatores que beneficiam o plantio da maconha. “O início do ano é um período em que chove muito, o que favorece o crescimento da vegetação, inclusive da cannabis sativa. E nós identificamos um quadrilátero de produção nos municípios de Moju, Mocajuba, Tomé-Açu e Tailândia. Em função disso, nós implementamos uma pressão maior nesses locais”, explica o coronel Pedro. Além disso, o oficial reconhece que os fatores sociais também pesam no aumento do plantio da maconha. “Aquelas pessoas que não estão inseridas no mercado de trabalho são cooptadas pelo crime para buscar uma geração de emprego e renda, contudo nós precisamos fazer o nosso trabalho”, completou.
Em busca de novos recordes
Nos três primeiros meses deste ano, a Polícia Militar soma 285,21 Kg de drogas apreendidas no estado, uma média de 95 Kg por mês. Para continuar avançando na quebra de novos recordes, a PM tem investido pesado em equipamentos que possam viabilizar a execução das ações policiais - como a aquisição de viaturas, armamentos, lanchas blindadas e coletes balísticos modernos - além de cursos operacionais voltados para dotar a tropa de conhecimentos especializados e da reforma e construção de unidades, demonstrando o compromisso do Alto-Comando com a acomodação dos policiais.
Melhor que apreender, prevenir
O diretor de Polícia Comunitária e Direitos Humanos da PM (DPCDH), coronel Elson Brito, reconhece que a corporação tem feito um trabalho repressivo de qualidade, mas complementa que prevenir é crucial. “As drogas são comprovadamente matéria-prima da violência e da criminalidade, principalmente nas áreas de grande vulnerabilidade social. Mas o recobrimento preventivo atua na base, buscando cortar esse circuito”, explica o oficial, que também é sociólogo.
É por isso que há 19 anos a Polícia Militar executa o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência, o Proerd, que já formou 376.797 crianças do 5º e 7º anos do ensino fundamental. Policiais devidamente capacitados para lidar com o público infanto-juvenil abordam em sala de aula os problemas causados pelo consumo das drogas, tratando, também, sobre o combate ao bullying. “O Proerd é um programa lúdico, que tem a intenção de entrar nas escolas e mostrar novas estratégias de dizer não às drogas, de pensar a escola como espaço social onde as pessoas mantêm relações humanas. O Programa tem dado resultado porque faz despertar, desde o primeiro momento, a possibilidade de evitar as drogas e porque a criança, quando é sensibilizada, também costuma sensibilizar os pais”, explica o diretor. Cento e catorze municípios já foram atendidos pelo Proerd.
Para aprimorar o trabalho desenvolvido pelo Programa em sala de aula, a Polícia Militar recebeu, no mês passado, 85 equipamentos, entre eles, condicionadores de ar, mesas, projetores multimídia, notebook, televisor, bebedouro, armários, refrigeradores e caixas acústicas. A soma de todo o material ultrapassa o valor de R$100 mil revestidos para dar suporte às atividades do Proerd na capital e no interior.
O enfrentamento ao tráfico de drogas, repressivo ou preventivo, tem um objetivo único: combater a circulação e o consumo dessas substâncias, principalmente pela população jovem. “Bater recorde na apreensão de drogas significa a diminuição da violência”. A droga vicia e o dependente começa a furtar, roubar e, às vezes, até a matar. Por isso, trabalhamos a prevenção primária, não somente pelo Proerd, mas com as escolas cívico-militares e o projeto de Supervisão Militar Educacional”, explica o chefe do Departamento-Geral de Operações da PM, coronel Pedro. De acordo com ele, o combate ao tráfico continua, com a Polícia Militar nas ruas cumprindo seu papel constitucional.